segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O "homem do Youtube" que procura o ouro nos Jogos do Rio

Um cyber-café, um pau, cola, um prado espaçoso e muita força de vontade: a receita para ser campeão do mundo e para lutar por uma medalha olímpica.Foi com estes instrumentos que o queniano Julius Yego se tornou lançador de dardo e, em 2015, campeão do mundo da especialidade. “Algures no meu sangue tenho escrito ‘dardo’”, disse numa entrevista à estação televisiva CNN.
Nascido no sudoeste do Quénia, Yego começou, desde cedo, a fabricar os seus próprios dardos, com paus e canas que apanhava no chão. O queniano começou a treinar de forma individual e participou em competições escolares e juvenis, até se qualificar para os mundiais de juniores, na Polónia. Yego não compareceu – por não ter dinheiro – e percebeu que teria de elevar-se para outro patamar.
Como treinava sozinho, não tinha ninguém que lhe dissesse o que estava a fazer bem ou mal. Assim, em 2009, Julius Yego começou a frequentar umcyber-café, passando horas, no Youtube, a ver vídeos dos melhores lançadores do mundo como o checo Jan Zelezny (campeão olímpico em Atlanta e Sidney) ou o norueguês Andreas Thorkildsen (campeão olímpico em Atenas e Pequim). O queniano via a técnica dos melhores do mundo e imitava-a no seu “campo” de treino, ao pé de casa, bem como o próprio regime de treino físico adoptado pelos principais atletas.
Com 19 anos, Yego venceu o título nacional do seu país e, numa nação de fundistas, começou a inscrever o seu nome no topo do desporto queniano. Com o título nos Jogos Africanos, em 2011, em Maputo, Yego tornou-se o primeiro queniano a vencer a competição de lançamento do dardo, batendo o recorde nacional. Surgiram as luzes da ribalta e, claro, a imprensa. Os jornalistas estavam curiosos para conhecer a história do jovem queniano e queriam falar com o seu treinador, para saber como tinha sido o percurso até ao sucesso. Mas o treinador não estava lá (pelo menos não disponível para uma conversa com jornalistas). “Eles perguntaram-me quem era o meu treinador e eu disse-lhes: ‘Youtube’”, revelou Yego, na entrevista à CNN.

Uma carreira em ascensão

A Federação Internacional de Atletismo ofereceu-lhe uma bolsa de aprendizagem na Finlândia, com vista à preparação para os Jogos Olímpicos de Londres. Em terras britânicas, Yego – o primeiro queniano a participar no lançamento do dardo em Olimpíadas – bateu, uma vez mais, o recorde queniano e chegou à final, terminando no 12.º lugar. Seguiram-se dois ouros nos Campeonatos de África, em 2012 e 2014, bem como o ouro nos Jogos da Commonwealth. Mas o melhor ainda estava para vir. Em 2015, em Pequim, Julius Yego chega ao “topo do mundo”. Vence o ouro nos Mundiais, com um lançamento de 92,72 metros.
Apesar do sucesso, as dificuldades mantinham-se. A falta de treinador sempre foi o maior desafio para o lançador queniano. “Para mim, o maior desafio é treinar sem treinador quase todo o tempo. O meu treinador [Petteri Piironen] está na Finlândia e eu não tenho dinheiro para que ele venha para cá e fique aqui comigo”.

Surgirá outro “Youtube man”?

Yego assumiu que “ver os vídeos daqueles lançadores ajudou bastante” e ficou conhecido como o “Youtube man”. O cibernauta-lançador já deixou no ar a hipótese de ser ultrapassado por um futuro atleta, o seu filho, que não terá de ir ao Youtube. “Ele vai ser muito bom. Melhor do que eu, provavelmente. E não terá problemas para ter um treinador”.

  Fonte > https://www.publico.pt/desporto/noticia/o-homem-do-youtube-1741253

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